24.10.10

Padrões de Conduta e Liberdade Espiritual (Parte 1)

Síntese da Yoga
Capítulo VII
A Yoga dos Trabalhos Divinos: Padrões de Conduta e Liberdade Espiritual
Parte 1


Comentários
Sri Aurobindo lança neste fragmento o direcionamento tomado no capítulo.
• Inicia colocando em evidência a pedra fundamental que deve guiar nossas ações, que é o senso de unidade.
• Desenvolvendo o tema expõe a relação entre nossa ação individual e a sua relação com a ação universal.
• Tendo estabelecido essa relação observa que o ser individual é um reflexo imperfeito do ser universal em seu movimento.
• O que gera uma espécie de instinto de perfeição enraizado em todo indivíduo que se manifesta como regras, ideais, normas e leis.
• Com base nestes elementos é lançado os fundamentos que serão abordados no presente capítulo: Padrões de Conduta e Liberdade Espiritual.


[A busca de perfeição do indivíduo como forma de realização vontade divina no cosmos]
O CONHECIMENTO no qual o executor de obras na Yoga tem que fundamentar toda sua ação e desenvolvimento tem como pedra fundamental de sua estrutura uma percepção mais e mais concreta da unidade, o senso vivo de uma unidade que tudo permeia; ele se move em uma consciência crescente de toda existência como um todo indivisível: todo trabalho também faz parte deste todo divino indivisível.
Sua ação pessoal e seus resultados não mais podem ser ou parecer um movimento separado principalmente ou inteiramente determinado pelo “livre” arbítrio egoísta de um indivíduo, dele mesmo separado na massa. Nosso trabalho é parte de uma ação cósmica indivisível; eles são colocados ou, mais precisamente, colocam-se em seus lugares no todo do qual eles surgem e seu resultado é determinado por forças que nos ultrapassam. Essa ação do mundo em sua vasta totalidade e em cada pequeno detalhe é o movimento indivisível do Uno que se manifesta progressivamente no cosmos. O homem também se torna progressivamente consciente da verdade de si próprio e a verdade das coisas na proporção que ele desperta para esse Uno dentro dele e fora dele e para o processo oculto, milagroso e significativo de suas forças no movimento da Natureza. Essa ação, este movimento, não se limita mesmo a nós e aqueles que estão a nossa volta na pequena porção fragmentada da atividade cósmica das quais nós em nossa consciência superficial estamos cientes; ela é apoiada por uma imensa e oculta existência, circundando subliminarmente as nossas mentes ou subconscientes, e ela é atraída por uma imensa e transcendente existência que é superconsciente para a nossa natureza. Nossas ações surgem, como se nós mesmos tivéssemos emergido, saindo de uma universalidade da qual nós não temos consciência; nós damos a elas uma forma pelo nosso temperamento pessoal, mente pessoal, pensamentos e vontades ou forças de impulsos e desejos; mas a verdadeira verdade das coisas, a verdadeira lei da ação excede essas disposições pessoais e humanas. Todo ponto de vista, toda regra de ação criada pelo homem que ignora a totalidade indivisível do movimento cósmico, qualquer que seja sua utilidade em práticas externas, é para o olho da Verdade espiritual uma visão imperfeita e uma lei da Ignorância.

[A DIFICULDADE DE CONCILIAR A AÇÃO UNIVERSAL COM A AÇÃO INDIVIDUAL]
Mesmo quando chegarmos a algum vislumbre dessa idéia ou conseguir ajustá-la em nossa consciência como um conhecimento da mente e conseqüentemente uma atitude da alma, é difícil para nós em nossas partes exteriores e natureza ativa de resolver o conflito entre o ponto de vista universal e as reivindicações da nossa opinião pessoal, nossa vontade pessoal, nossos desejos e emoções pessoais. Nós ainda somos forçados a lidar com esse movimento indivisível como se ele fosse uma massa de matéria impessoal onde da qual nós, o ego, a pessoa, temos que moldar alguma coisa de acordo com nossa própria vontade e fantasia mental por nossa luta e esforço pessoal. Esta é a atitude normal do homem em direção ao seu meio, na realidade falsa porque nosso ego e suas vontades são criações e marionetes das forças cósmicas e é somente quando nós nos retiramos do ego na consciência do Conhecimento-Vontade divino do Eterno que age nele que nós podemos atuar por um tipo de delegação como mestres do ego. E ainda assim essa posição pessoal a atitude certa do homem enquanto ele prezar sua individualidade e não pode ainda desenvolver-la completamente; pois sem esse ponto de observação e força de motivação ele não pode crescer em seu ego, não pode suficientemente desenvolver-se e diferenciar-se fora da subconsciente ou semi-consciente existência em massa universal.

[A RAZÃO DA CONSCIÊNCIA DO EGO; A AÇÃO DO SER CÓSMICO E A AÇÃO DO EGO]
Mas o que mantêm essa consciência do ego sobre todos nossos hábitos da existência é a dificuldade de nos livrarmos dela quando nós não precisamos mais da separatividade, o estágio de desenvolvimento individualista e agressivo, quando nós poderíamos continuar a frente da necessidade de pequeneza na alma-infantil para a unidade e universalidade, para a consciência cósmica e além, para nossa transcendente estatura espiritual. É imprescindível de reconhecer claramente não apenas em nossos modos de pensar, mas na nossa forma sentir, perceber, agir, que este movimento, esta ação universal não é uma desamparada onda impessoal do ser que empresta a si própria para a vontade de algum ego de acordo com a força e insistência do ego. Ele é o movimento do Ser cósmico que é o Conhecedor dos seus campos, os passos de uma Divindade que é Mestre de sua própria progressiva força de ação. Como o movimento é um e indivisível, então ele que é presente no movimento é um, sozinho e indivisível. Não só todos resultados são determinados por ele, mas todo início, ação e progresso são dependente do movimento de sua força cósmica e somente pertencem secundariamente e em sua imagem para a criatura.

[O SER INDIVIDUAL COMO REPRESENTAÇÃO IMPERFEITA DO SER UNIVERSAL]
Mas o que então deve ser a posição espiritual do trabalhador pessoal? Qual é sua verdadeira relação na Natureza dinâmica com esse uno cósmico Ser e esse uno movimento total? Ele é apenas o centro ― um centro de diferenciação da una consciência pessoal, um centro de decisão do uno movimento total; sua personalidade reflete em uma onda de persistente individualidade a una Pessoa universal, o Transcendente, o Eterno. Na Ignorância ele é sempre uma débil e distorcida reflexão porque a crista de onda que é nosso ser consciente desperto deixa para trás somente uma semelhança imperfeita e falsificada do Espírito divino. Todas as nossas opiniões, padrões, disposições, princípios são apenas tentativas de representação neste espelho débil, refletindo e distorcendo alguma coisa da universal e progressiva ação total e seu multifacetado movimento em direção a alguma auto-revelação final do Divino. Nossa mente o representa o melhor que pode com uma estreita aproximação que se torna menos e menos inadequada na proporção que o pensamento cresce em amplitude, luz e poder; mas é sempre uma aproximação e nem mesmo uma verdadeira representação parcial. A Vontade Divina age através de éons para revelar-se progressivamente não apenas na unidade do cosmos, não apenas na coletividade das criaturas vivas e pensantes, mas na alma de cada indivíduo alguma coisa de seu divino Mistério e a verdade escondida do Infinito. Dessa forma existe no cosmos, na coletividade, no indivíduo, um instinto enraizado ou crença em sua própria perfeição, um constante guia em direção a um sempre crescente e mais adequado e mais harmônico desenvolvimento de si próprio próximo da verdade secreta nas coisas. Esse esforço é representado para a mente construtiva do homem como padrões de conhecimento, sentimentos, caráter, percepções sensórias e ações, ― regras, ideais, normas e leis que ele ensaia em tornar em um dharma universal.


Retirado do livro: Synthesis of Yoga
Capítulo: Standards of Conduct and Spiritual Freedom
pag. 188


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